Estudantes marcaram nova concentração no pátio do MEC, às 11h com o objetivo de apresentar um documento ao Ministro da Educação, contendo relatório estatístico da real situação da UFRJ. Durante vários dias, as lideranças universitárias tentavam realizar um encontro com Tarso Dutra - que havia divulgado a possibilidade de diálogo - mas sem sucesso.
A Polícia Militar se adiantou aos manifestantes, cercando o pátio do MEC com dois choques, um brucutu, além de soldados armados com cassetetes e escudos. Os grupos que se aproximavam do local eram recebidos com bombas de gás lacrimogêneo. Porém desta vez, os estudantes revidaram com pedradas e pedaços de madeira, partindo para o enfrentamento.
Devido à impossibilidade de chegar ao prédio do Ministério da Educação, as lideranças decidiram seguir em passeata pelas ruas do Centro. Formaram-se barricadas para impedir a movimentação da Polícia, utilizando veículos e diversos materiais que se encontravam pelo caminho.
Nos jornais, destaque para a violência nas ruas da cidade. No “O Globo”, referência ao “Fog Violento” que encobria a “paisagem dominada pelo brucutu solitário e manchada pelo gás lacrimogêneo”. O Editorial ressaltava a incapacidade da polícia em lidar com a situação.
Já o Correio da Manhã informava que a Secretaria de Segurança Pública havia decretado ordem de prisão aos líderes estudantis Vladimir Palmeira e Dirceu Régis, da FUEC. A intenção era acusá-los de agitação e organização das manifestações estudantis, além de incriminá-los pela morte de um soldado da PM.
Pela primeira vez os estudantes organizavam ação violenta contra a polícia, enfrentando os reforços da cavalaria com rolhas e bolas de gude, tomando conta do Centro do Rio. Uma parte da população aderiu ao movimento. Funcionários públicos, boys, entre outros, ajudavam a jogar pedras nos policiais. A Avenida Rio Branco ficou coalhada de papéis jogados como apoio à luta estudantil.
Entretanto, quando um grupo se destacou e decidiu atear fogo num caminhão do exército, contra a orientação das lideranças, houve intervenção da Polícia do Exército. Neste momento, a direção da UME comandou o fim da manifestação. Vários estudantes foram presos, entre eles, o presidente do diretório da Faculdade de Química, Jean Marc Vanderweild. No dia seguinte, novo encontro marcado: a idéia era ocupar a Reitoria da UFRJ.
Mais de dois mil estudantes permaneceram em assembléia por cerca de oito horas, na Reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Praia Vermelha.
Queriam discutir os problemas da universidade com o Conselho Universitário, que se encontrava trancado em reunião, numa sala e se recusava a dialogar.
Os estudantes quebraram as portas e obrigaram os conselheiros a ir debater com eles.
“Estamos todos na Reitoria, essa é a hora exata para conversarmos.”
O debate ficou em torno dos problemas das verbas federais e das questões relacionadas à autonomia e aos métodos de ensino da UFRJ. Uma parte dos professores apoiou as reivindicações estudantis. O reitor Clementino Fraga Filho manteve a compostura e chegou a colocar posições diversas daquelas dos estudantes. O fato dos professores terem debatido com os alunos foi considerado uma grande vitória, fato inédito.
Entretanto, choques da Polícia Militar, viaturas do DOPS e centenas de soldados com mosquetões e bombas de gás lacrimogêneo cercavam os portões de saída da UFRJ desde a manhã.
Mas o governo foi inflexível. Os estudantes decidiram sair na marra, temendo uma invasão na calada da noite. Imediatamente, inúmeras bombas de gás lacrimogêneo começaram a ser lançadas e os cassetetes entraram em ação.
Em meio à nuvem de fumaça, parte dos estudantes enfrentava a polícia, parte retornava à reitoria. Tiros eram disparados, muitos jovens caíam, sangrando, sendo pisoteados.
Os estudantes que não conseguiram sair foram levados para o Botafogo Futebol e Regatas, com a polícia quebrando vidraças e arrombando os portões.
Policiais obrigam os estudantes a deitarem-se no chão
Foto: Arquivo
Dentro do clube, todos foram obrigados a deitarem-se no chão, com as mãos na nuca, sendo pisados, humilhados e espancados.
As moças gritavam, várias eram agredidas de forma indecorosa. Policiais demonstravam preferência na repressão às jovens.
Prevendo a repressão, a direção da UME marcara nova passeata para o dia seguinte, pela manhã.
A manifestação foi convocada para o MEC, mas como sempre, os estudantes organizados partiriam de outro lugar para impedir a repressão policial. Concentraram-se na Praça Tiradentes e dali se deslocaram em direção ao pátio do Ministério da Educação e Cultura, onde outros grupos esperavam. O exército estava de prontidão.
No local, agentes do DOPS assistiam de longe o presidente da UME fazer breve comício, repreendendo em seguida, manifestantes mais exaltados, que insinuavam jogar pedras nas portas de vidro do prédio.
“ Hoje tivemos nova vitória, mas é preciso cuidado e não fazer provocações.
O que nós queremos é mostrar para o povo a organização do estudante. Nós lutamos por mais verbas e isso mostramos ontem na universidade e no Conselho Universitário.”
“Não, não. Ninguém vai quebrar, nós viemos aqui para dizer que não temos medo.”
Mais de mil e quinhentos estudantes deixaram o MEC, sendo aplaudidos por populares, que jogavam papel picado das janelas dos prédios. Passaram pela Cinelândia e se dirigiram para a o prédio da embaixada americana. Lá, enquanto alguns estudantes jogavam pedras, os seguranças responderam a tiros.
Agentes do DOPS chegavam numa viatura, disparando na direção da multidão. Os feridos começavam a cair pelo chão. Novas barricadas eram montadas pelas ruas.
Caminhões, caminhonetas e jipes invadiam as ruas. Soldados da PM desciam batendo com cassetete em todos que se encontravam nas imediações. Bombas de gás e tiros transformavam o Centro do Rio numa praça de guerra.
Grupos que escapavam viravam carros, fechando as ruas. A cavalaria da PM surgia para reforçar a repressão. Do alto dos edifícios, as pessoas vaiavam, jogando cinzeiros, pesos de papel e pedaços de pau nos policiais.
O jornal O Globo, destacava o balanço do confronto: 97 feridos e um policial morto. De acordo com a matéria, a “repressão começou com tiros”.
O Jornal do Brasil destacava a morte de dois civis, um policial e mais de 80 feridos, numa batalha que durou cerca de seis horas, envolvendo policias, estudantes e populares pela janela. De acordo com o JB, “o governo do Estado decidiu prender os líderes estudantis Dirceu Régis e Vladimir Palmeira, ... pois incitava os estudantes a jogar pedras na Polícia”.
Após o confronto da sexta-feira e apesar da fortíssima repressão, os estudantes decidiram continuar com as manifestações, programando uma passeata-monstro para a semana seguinte. No sábado, os jovens já entravam nos ônibus convocando o povo a se manifestar.
Um grupo de intelectuais e artistas formados por Oscar Niemeyer, Clarice Lispector, Ferreira Gullar, Marcello Alencar, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Paulo Autran, Tônia Carrero, Odete Lara, Helio Pelegrino, entre outros, foram ao Palácio da Guanabara, pedir autorização ao governador Negrão de Lima para a realização da manifestação.
A situação era extremamente tensa, mas a ditadura militar decidiu permitir a passeata. Um erro de cálculo. A população da cidade do Rio de Janeiro iria demonstrar apoio aos estudantes e repúdio à própria ditadura.