No Brasil e no mundo, 1968 representou transformações profundas, manifestações reais, revoltas genuínas, explosões culturais. O capitalismo se modificava, a industrialização delineava novos processos de produção. No mundo socialista, a economia da URSS, segunda potência mundial, apresentava os primeiros sinais de crise, com reflexos em vários países do Leste Europeu.
Estudantes faziam barricadas nas ruas de Paris. Movimentos de contestação eclodiam na Alemanha, Bélgica, Espanha, Itália, Japão, assim como nos Estados Unidos, onde universitários se posicionavam contra a guerra do Vietnã.
No Brasil, a juventude também protestava. contra a grave situação das universidades e contra o regime militar. O movimento estudantil buscava melhorias no sistema educacional, a justiça social, o direito de se manifestar livremente, o desejo de transformar o mundo.
As mudanças se iniciaram no início dos anos 60, com a evolução da cadeia de montagem da indústria Fordista para um tipo de indústria completamente diferente, que privilegiasse a automação, assim como a reformulação do próprio processo de trabalho.
Do mesmo modo, havia um desequilíbrio no mundo socialista. A URSS, segunda potência mundial, que havia feito uma revolução, enfrentava o declínio da sua taxa de aumento de produtividade, desestabilizando a economia e ocasionando uma grave crise interna.
Embora o triunfo soviético no que diz respeito à industrialização e ao desenvolvimento das tecnologias nuclear e espacial fosse efetivo, o regime estatal passou a não funcionar adequadamente, desde que a economia foi se tornando complexa, o país foi se urbanizando e a reserva de mão-de-obra e de energia barata desaparecendo.
Se em todo o mundo, a juventude lutou contra o autoritarismo, no Brasil foi elemento propulsor das mudanças comportamentais e culturais. Ela se inseria na luta por mudanças por baixo, pela ótica dos oprimidos, questionando as estruturas arcaicas existentes no âmbito familiar, nas instituições universitárias, no sistema político.
Novas formas de expressão surgiam no cenário nacional. No segmento musical, a MPB, o tropicalismo, a revitalização do samba, assim como o rock, impulsionavam o espírito contestador da época. Da mesma forma, despontavam novas formas de relacionamento, com a conquista da liberdade sexual, em função do advento da pílula anticoncepcional.
No Rio de Janeiro, além dos universitários, surgiram também manifestações de secundaristas. Uma das mais importantes relacionava-se ao Calabouço, restaurante que atendia aos estudantes, com preços populares.
O local, dirigido pela UME - União Metropolitana dos Estudantes - havia sido fechado pela ditadura militar após o Golpe de 1964. Em 1967, com o apoio da entidade, do CACO e demais diretórios, os estudantes conseguiram reabrir o restaurante em outro lugar, no Castelo. Porém, este havia sido entregue inacabado pelo governo. A luta dos comensais do Calabouço pela conclusão do restaurante traria a primeira das grandes manifestações de massa de 1968.