Em uma operação fulminante, a polícia, auxiliada por forças da Marinha e do Exército, ocupou o Alemão. Chamou a atenção a facilidade do processo. Testemunhas falam do medo e da desorientação dos traficantes, na véspera da ocupação.
A grande mídia exultou. Boa parte da opinião pública também. O clima de euforia foi tanto que as autoridades decidiram que iriam, sim, fazer UPP no Alemão, coisa que negavam um dia antes.
A visão de que se trata de uma guerra, parte da política de segurança do governo, teve seu ápice quando colocaram uma bandeira brasileira no topo do morro, como se os brasileiros fossem invasores e o Alemão um país derrotado.
A ocupação se deu com os vexames de sempre contra moradores. TVs destruídas a golpe de fuzil, casas arrombadas e saqueadas. Pouco a pouco a grande mídia vai mostrando que a ocupação teve os elementos de sempre. Desprezo pelo povo pobre, arrogância e violência. Leitores de O Globo pediram isso, insistiam em que se tinha de entrar em todas as casas. Imagine-se isso em um bairro de classe média. Mas, para eles, na favela não vigem os direitos humanos.
Ao mesmo tempo em que nenhum órgão de imprensa defendeu os direitos humanos dos moradores, os jornais se esmeraram em denunciar que casa do chefe do tráfico era um palacete, contrastando com a modéstia das casas comuns. Espantam-se que a divisão de classes exista também na favela e no tráfico, em particular. Porque nunca fariam uma matéria contrastando a casa de uma família de classe média ou pobre com os palacetes de banqueiros e grandes industriais.
Os bandidos, vê-se agora, erraram completamente em sua avaliação. Raramente uma operação de ocupação teve tantos presos, embora os chefes e muitos outros bandidos tenham fugido. A quantidade de droga aprendida é enorme. O que termina sendo um elemento realmente positivo da ocupação. Mas foi um resíduo.
Temos defendido que as UPPs não adiantam se as quadrilhas não forem desarticuladas e seus membros presos. Este papel deveria caber à polícia civil, basicamente. O governo insiste com a ocupação sem desarticulação das quadrilhas. Ou faz UPP onde não encontrou resistência ou adota a velha política do confronto armado, onde os inocentes costumam pagar mais que os traficantes. Segundo, as UPPs devem ser dirigidas pelo poder civil, ou nos arriscamos a criar novas variantes de milícia.
O governo fala que está ganhando territórios. É duvidoso. Sem dúvida, entraram em algumas favelas. Mas o tráfico passa a controlar outras áreas. Há um deslocamento de território. Donde, os bandidos continuam com bases que lhes servem de retaguarda.
Finalmente, o próprio governo dizia que precisava de 3000 soldados para instalar uma UPP no Alemão. Vai ser difícil dispor deles. Anuncia que as Forças Armadas vão assumir uma grande parte do trabalho. O que significa que estas estarão entrando de vez no novo papel de polícias. O que é ruim para estas instituições e também para a população.
O que nós precisamos é de uma nova política policial. O governo está longe dela e cada vez mais próximo de tratar a questão, como querem alguns, como se fosse uma guerra. Quem paga é o povo pobre.