Cerca de mil estudantes haviam comparecido ao 30º Congresso da UNE. O encontro acontecia num sítio, na cidade de Ibiúna, localizada a 70 Km de São Paulo.
Com poucos alojamentos, sem muita estrutura, muitos estudantes dormiam no chão de barro, em barracas improvisadas, em meio à lama, por causa do tempo chuvoso.
A luta pela presidência estava especialmente acirrada. Vladimir Palmeira apoiava José Dirceu, ex-presidente da UEE de São Paulo. Luiz Travassos dava sustentação à Jean Marc, ex-presidente do centro acadêmico da Faculdade de Química da UFRJ.
De acordo com Franklin Martins, a linha de Travassos seria derrotada, como já vinha acontecendo na maioria dos congressos regionais.
- A UNE está sem qualquer organização real e isso já vinha de antes dos tempos do Travassos. Ela não é respeitada em diversos estados importantes. Acreditamos que o José Dirceu possa lhe dar a mesma organização que promoveu a UEE de São Paulo, onde esmagou a corrente travassista representada por Catarina Meloni, declarou, conforme matéria da Revista Veja.
Porém, a polícia ficou sabendo da localização do Congresso, planejando a invasão ao sítio bem cedo pela manhã, antes que houvesse a realização da eleição. Inúmeros soldados da PM e do DOPS chegaram atirando com balas de festim.
Muitos universitários ainda dormiam nas barracas, outros tomavam café, todos foram pegos de surpresa. Não houve resistência.
Rapazes e moças saíram enrolados em cobertores, sujos de lama, andando pelas ruas até a Cooperativa Agrícola de Cotia, onde aguardavam ônibus, caminhões e kombis, que os levariam até a cidade de São Paulo.
José Dirceu e Vladimir conversando antes do Congresso
Foto: Arquivo
Estudantes presos em Ibiúna seguem pela estrada até a Cooperativa
Agrícola de Cotia . Foto: Arquivo
“Essa foi a prisão mais triste, a situação mais chata. Não a prisão em si, mas porque eu tinha fugido. Eu já estava imaginando o que iria fazer, mas o trânsito parou, o sinal havia fechado. Parece que um cabo da polícia ou da aeronáutica me viu. Então, a polícia passou a correr atrás de mim. Eu entrava em transversais, me escondi num estacionamento de carros, mas fui preso.”
Além de Vladimir Palmeira, outros líderes estudantis, como José Dirceu, da UEE, Luis Travassos, da UNE, e Franklin Martins, do DCE da UFRJ, também foram presos.
Estudantes da Faculdade de Medicina da UERJ faziam manifestação em frente ao Hospital Universitário Pedro Ernesto, em repúdio às prisões ocorridas no 30º Congresso da UNE, em Ibiúna. No momento em que se preparavam para inaugurar a estátua “Liberdade 68”, no pátio local, policiais militares e agentes do DOPS em ação conjunta com o Comando do I Exército, chegaram atirando.
Como resultado, pancadaria, violência e a morte de Luiz Paulo da Cruz Nunes, 21 anos, que cursava o segundo ano de Medicina, com um tiro na cabeça. Alunos da UERJ tomaram conta da Avenida 28 de setembro, em Vila Isabel, com faixas e cartazes protestando contra a repressão policial.
A UNE, contudo, tentava driblar a ditadura. Para libertar os estudantes que permaneciam na prisão, formou um comando de resistência e solidariedade, recolhendo donativos e contribuições para despesas judiciais. Do mesmo modo, promoveu um mini congresso, no CRUSB, em São Paulo, no início de dezembro, o qual elegeu José Dirceu à presidência da entidade. Apenas em abril de 1969, outro conselho seria convocado, conclamando Jean Marc, do centro acadêmico da Faculdade de Química da UFRJ, novo presidente da UNE.