ANO 1968
ANO 1968

A Grande Passeata

Rio de Janeiro, 26 de Junho de 1968
Centro do Rio - Passeata dos Cem Mil

Mães, artistas, intelectuais, estudantes, professores, políticos, operários e religiosos chegavam à Cinelândia, local marcado para a concentração da grande passeata contra a violenta repressão da polícia às reivindicações estudantis.

Desta vez, o presidente Costa e Silva recomendou ao governador Negrão de Lima a realização da manifestação. Com a intenção de esvaziar o movimento, o governo da Guanabara decretou ponto facultativo. Agentes do DOPS disfarçados permaneciam no local. Um dos objetivos era prender Vladimir Palmeira.

clique para ampliarPasseata dos Cem Mil. Evandro Teixeira
Passeata dos Cem Mil
Foto: Evandro Teixeira

clique para ampliarPasseata estudantil hoje tem apoio e participação do povo - Jornal do Brasil
Jornal do Brasil

clique para ampliarWladimir volta às ruas deixando a polícia tonta - Correio da Manhã
Correio da Manhã

Por volta das 11h, a frente da Assembléia Legislativa já havia sido tomada. Lideranças estudantis, políticos e populares se revezavam nos discursos. Entre eles, Luis Travassos, da UNE, Elinor Brito, da FUEC, Walmer Soares, do DCE da UFRJ, o escritor Hélio Pelegrino, o padre João Batista Ferreira, o professor José Américo Peçanha, Irene Papi representando as mães, além de sindicalistas.

O presidente da UME, Vladimir Palmeira, chegou à Cinelândia, com forte esquema de segurança, montado pelos próprios estudantes, ao lado da esposa, Ana Maria, sendo muito aplaudido. Fez vários discursos, repetindo sempre aos estudantes, que não aceitassem provocações de policiais infiltrados na concentração.

clique para ampliarConcentração em frente à Assembléia Legislativa
Concentração em frente à Assembléia Legislativa
Foto: Evandro Teixeira

“Pessoal, a gente é a favor da violência quando ela é aplicada para fins maiores. No momento, ninguém deve usar a força contra a Policia, pois a violência é própria das autoridades, que tentam por todos os meios calar a voz do povo.

Somos a favor da violência quando, através de um processo longo, chegar a hora de pegar nas armas. Aí, nem a polícia, nem qualquer outra força repressiva da ditadura, poderá deter o avanço do povo."

Evandro Teixeira
Foto: Evandro Teixeira

 

Arquivo
Foto: Arquivo

 

"Nós queremos os cadáveres dos estudantes que foram mortos durante as últimas manifestações. Todos viram seus corpos, ao vivo e nos jornais, e não é possível que o governador e as outras forças repressivas continuem a esconder os seus corpos para iludir a população."

 

A passeata partia em direção à Candelária.

Padres e freiras se juntaram numa grande ala, trazendo faixas com dizeres “Fazer calar nossos moços é violentar nossas consciências” e repetindo slogans como “A Igreja quer justiça”, “Liberdade para os presos”, “ Os alunos tem razão”.

Entre os participantes, o bispo e vigário-geral do Rio, Dom Castro Pinto, o cardeal Don Jaime Câmara, o presidente da Associação Católica da Guanabara, padre Vicente Ádamo, representantes dos colégios São Vicente de Paulo, Santo Agostinho, Sion, Zacarias, membros da Ordem dos Lázaros, além de madres e irmãs vicentinas, ursolinas e marianas.

Aplausos e chuva de papel picado acompanhavam os manifestantes, vindos das janelas dos prédios da Avenida Rio Branco.

Na ala dos políticos, destacavam-se o senador Mário Martins acompanhado da esposa, o advogado e ex-senador Marcello Alencar e os deputados estaduais Alberto Rajão, Fabiano Vilanova, Ciro Kurtz, Jamil Hadad.

Os artistas vinham caminhando de mãos dadas, seguidos pelos intelectuais.

Entre eles Gilberto Gil, Caetano Veloso, Edu Lobo, Nana Caymmi, Torquato Neto, Tônia Carrero, Paulo Autran, Antonio Pedro, Nélson Mota, Marieta Severo, Leonardo Vilar, Oscar Niemeyer, Clarice Lispector, Milton Nascimento.

Também de braços dados marchavam Chico Buarque, Norma Bengel, Odete Lara, Antônio Pedro, Ziraldo, Jaguar, Dias Gomes, Vinícius de Moraes, Glauber Rocha, Djanira, Carlos Scliar, Leandro Konder, Oduvaldo Viana Filho, Ferreira Gullar, Millor Fernandes, Antônio Pitanga...

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Ala do padres
Foto: Arquivo

clique para ampliarAla das freiras
Ala das freiras
Foto: Arquivo

clique para ampliarAla dos intelectuais, com Clarice Lispector, Oscar Niemayer, Milton
Nascimento, etc.
Ala dos intelectuais, com Clarice Lispector, Oscar Niemayer, Milton Nascimento, etc.
Foto: Arquivo

clique para ampliarAla dos artistas, com  Caetano Veloso, Gilberto Gil, entre outros
Ala dos artistas, com Caetano Veloso, Gilberto Gil, entre outros
Foto: Arquivo

 

Com as mãos para o alto, num coro de “Abaixo a Ditadura”, estudantes chegavam à Candelária.

O líder Vladimir Palmeira subiu em cima de um carro, pedindo para que todos se sentassem.

Fez novo discurso, renovando o pedido de cuidado com os policiais do DOPS infiltrados, afirmando o poder do movimento de massas.

clique para ampliarAla dos artistas, com Chico Buarque, Edu Lobo, entre outros
Ala dos artistas, com Chico Buarque, Edu Lobo, entre outros
Foto: Arquivo

clique para ampliarO grito de ordem: Abaixo a Ditadura?
O grito de ordem: Abaixo a Ditadura
Foto: Arquivo

“Este lugar tem um significado muito grande para nós. Foi na Candelária que foi rezada a missa do estudante morto no Calabouço. Foi aqui que nós fomos massacrados pela cavalaria da polícia militar. Hoje é diferente. Prova de que potencialidade de luta popular é maior do que as forças da repressão. Hoje damos uma demonstração de força e de fraqueza ao mesmo tempo. Temos força para retomar a praça, mas ainda não podemos tomar o poder que eles usurparam."
Evandro Teixeira
Foto: Evandro Teixeira

 

“Não quero quebra- quebra, nada de agitação.

Eles querem baderna. Nós queremos outra coisa, muito diferente.”

Evandro Teixeira
Foto: Evandro Teixeira

 

Depois de seis horas de manifestação, estudantes e populares chegavam ao Palácio Tiradentes, sem nenhum conflito com a polícia.

Encerrava-se então a passeata, que reuniu cerca de cem mil pessoas, conforme jornais da época, representando um dos mais significativos protestos no período ditatorial do Brasil e demonstrando a grande capacidade de mobilização do Movimento Estudantil. A Passeata dos Cem Mil.

clique para ampliarEstudantes se reúnem em frente ao Palácio Tiradentes
Estudantes se reúnem em frente ao Palácio Tiradentes
Foto: Arquivo

Rio de Janeiro, 27 de Junho a 03 de julho de 1968

Foi grande a repercussão da Passeata dos Cem Mil. Todos os jornais deram destaque à manifestação que havia ocorrido de forma pacífica e sem repressão, assim como à atuação do presidente da UME, Vladimir Palmeira, que se distinguia dos demais, pelo espírito de liderança.

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Jornal dos Sports

Jornal dos Sports

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Jornais
O Globo - Jornal do Brasil - Correio da Manhã - Jornal dos Sports - O Globo

 

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Arquivo

Arquivo

A revista americana Time, citava Vladimir Palmeira como líder estudantil, que comandou milhares de pessoas na maior manifestação pública dos últimos quatro anos, que aglutinou “cidadãos comuns, escritores, professores, trabalhadores, freiras e padres da Igreja Católica”, dando ênfase ainda à chuva de papel picado que caía dos escritórios dos edifícios da Avenida Rio Branco.

No Jornal do Brasil, referências às lideranças do movimento estudantil, em artigos sobre Vladimir Palmeira e Hélio Pelegrino.

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Time

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Jornal dos Sports

 

Os estudantes, afinal, foram recebidos por uma autoridade governamental, ninguém menos que o próprio Presidente da República, General Costa e Silva. Franklin Martins e Marcos Medeiros, juntamente com o escritor Hélio Pelegrino, o professor José Américo, o padre João Batista e o advogado Marcello Alencar foram os representantes da comissão popular eleita na Passeata dos Cem Mil. Contudo, não obtiveram êxito. Costa e Silva exigia o fim definitivo de qualquer manifestação estudantil. A UME não poderia aceitar tal condição. E os estudantes decidiram voltar às ruas. Uma nova passeata foi marcada para o Centro do Rio, pedindo sobretudo a libertação dos presos.

 

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No Palácio da Guanabara: Padre João Batista, Franklin Martins, Hélio
Pelegrino, Marco Medeiros, Marcelo Alencar e José Américo

No Palácio da Guanabara: Padre João Batista, Franklin Martins, Hélio Pelegrino, Marco Medeiros, Marcelo Alencar e José Américo
Foto: Arquivo

 

Rio de Janeiro, 04 de Julho de 1968
Passeata dos 50 mil

A concentração era em frente ao prédio do MEC. Estudantes chegavam de vários pontos distintos, Cinelândia, Castelo, Largo da Carioca, Avenida Antônio Carlos, Avenida Nilo Peçanha. Junto com eles, novamente padres, freiras, intelectuais, mães de alunos, artistas, jornalistas e populares.

Vladimir Palmeira dirigiu a manifestação e fez vários discursos, criticando a ditadura militar.

- Se hoje a manifestação é pacífica é porque a ditadura não tem condições de reprimir cem mil populares sem matar centenas deles e provocar com isso, uma reação em cadeia, de todo o povo brasileiro, disse.

clique para ampliarVladimir discursa durante passeata dos 50 mil
Vladimir discursa durante passeata dos 50 mil
Foto: Evandro Teixeira
Arquivo
Foto: Evandro Teixeira

 

“Os estudantes e o povo voltam às ruas porque o governo se negou a atender às nossas exigências. À série de reivindicações que fizemos, a ditadura respondeu não. Pois, não, respondemos nós.

Não à repressão, não à dominação estrangeira, não à exploração de um povo, não à miséria deste povo, não à morte deste povo. Os estudantes cumprem seu papel de denúncia da ditadura.”

 

A passeata reuniu mais de 50 mil pessoas e parou as ruas do Centro do Rio de Janeiro por cerca de sete horas.

Os manifestantes entoavam slogans contra a censura, a repressão e a favor da liberdade de expressão.

Em frente do prédio do Jornal do Brasil, Vladimir Palmeira e Elinor Brito pararam e fizeram pequeno discurso, negando a notícia de que ambos haviam se desentendido, ocasionando uma cisão entre a UME e a FUEC.

Depois de passar pela Avenida Rio Branco, Buenos Aires, Regente Feijó, Campo de Santana, contornar a Praça da República e o Hospital Souza Aguiar, os estudantes pararam em frente ao Supremo Tribunal Militar, onde Vladimir Palmeira fez o encerramento da manifestação, de cima do capô de um carro.

clique para ampliarEstudantes tomam as ruas do Centro
Estudantes tomam as ruas do Centro
Foto: Arquivo

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Correio da Manhã - Jornal do Brasil

“Paramos aqui para dizer a este Tribunal que deve parar de ser militar e ser mais a favor do povo, pois é aqui que nossos colegas são julgados.

Estamos reunidos para levar um habeas-corpus de todo o povo para libertar nossos presos.”

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Foto: Arquivo

 

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